
És facilmente irritável. Precisas combater tenazmente essa fraqueza da tua vontade.

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Quem apostoliza precisa mais de humildade, do que de violência; mais de autoridade do que de cólera. Foi pela humildade que o Mestre conquistou o mundo; foi pela humildade que os seus discípulos consolidaram a doutrina.
Francisco Xavier, só e humilde, conquistou mais almas para o Cristianismo do que todos os cruzados,com os seus aguerridos exércitos e as sua poderosas armadas.
O pobre só se impunha pela simplicidade e pela verdade; os guerreiros pela tirania e pela chacina. Um era o amor e a paz, os outros eram o terror e a desolação; um levava a esperança, os outros o desespero; um levava o alivio às dores, os outros faziam dores para que não havia alivio; por isso o hábito roto e as sandálias humildes do apóstolo ficaram sendo veneradas, e as reluzentes armaduras dos príncipes rapaces e fanáticos, execradas.
Uma idéia, ainda que má, exposta em tranqüila prédica, é mais suscetível de converter incrédulos, do que a mais pura idéia, imposta com intolerância.
Perdoa que nós insistamos de vez em quando nestes conselhos. São indispensáveis. Não há ai quem tão limpo esteja dos maus assomos da vaidade e da irritabilidade, que receba sempre, a sangue frio, os golpes vibrados por quem saiba ferir aquelas duas fraquezas espirituais.
Companheiro. E’ incontroverso que depois que da Terra sai, alguma coisa aprendi mais do que o que nela sabia. Este novo pecúlio de saber seria talvez proveitoso a refundição da minha obra ai.
Tenho refletido muito nisso, por vezes. Sempre que encontro na Terra um médium bom, crio desejos de fazê-lo;
– e agora; que tenho assistido ao desabrochar das tuas faculdades, mais uma vez pensei, com interesse, na possibilidade de fazer esse trabalho de melhoramento, de aperfeiçoamento.
Penso, porém, ao mesmo tempo, que me devo contentar com o que deixei feito.
Assim como é, tem servido bem para o fim a que a destinaram os Espíritos que a ela presidiam, e os que se me seguirem ai, que busquem, no campo especulativo, o que por mal meu e dela lhe possa faltar ainda.
No campo experimental, ilustres e prestantíssimos sábios se lhe tem avantajado em muito.
A parte experimental é, porem, efêmera. Boa para a conquista, não tem, todavia, qualidades de estabilidade e de conservação. Como fenômeno experimentado, entra na ordem das coisas concretas, e para estas coisas, o aperfeiçoamento é mais sensível, porque a natureza delas e mais precária.
Uma obra experimental de grande atualidade e verdade hoje, daqui a dez anos será velha, se a não acompanhar, como parte integrante e auxiliar, a feição abstrata e ideal.
Os meus livros, no que tem de prático, sob o ponto de vista experimental, estão antiquados e suplantados, de há muito, por dezenas de outras obras de mais incontestado e incontestável valor, daquela ordem de estudos. O que, porém neles existe da parte moral e de ensinamento, ainda não foi nem será facilmente sobrepujado. E’ que, neste campo, eles estão com a verdade, e a verdade, apresentada sob que aspecto for, e sempre a verdade. E’ tão nova hoje, como no tempo do Cristo, como no tempo dos profetas, como em qualquer tempo.
Como disse Littré na sua comunicação: – sobre filosofia, o homem esta hoje tão adiantado como há milhares de anos.
Ora a filosofia e a verdade espiritual na Terra.
Sendo assim, para que hei-de mexer na minha obra?
O que tem de bom, há-de ser bom sempre. O que não é bom já esta destruído pelo tempo e substituído vantajosamente por todos os trabalhos dos que, com mais valor, me sucederam.
Se, porém, eu reconhecer necessidade e oportunidade para dizer alguma coisa de novo e de útil, o farei; assim como terei sempre grandíssimo prazer em te responder sobre qualquer assunto, ou sobre qualquer detalhe, em que me dês a satisfação de me consultares. Digo-te isto despretensiosamente. Não me ofereço. Conselhos não se oferecem.
Ponho-me à tua disposição, para te utilizares do meu préstimo e da minha experiência, se nisso vires alguma vantagem; mas não me magoarei se me não utilizares.
E que Deus te ilumine sempre a estrada a percorreres.
Lisboa, 6 de Maio de 1907.
Autor: Fernando de Lacerda
Fonte: Do país da Luz Vol 2 via Vade mecum espirita

Do país da Luz e Fernando de Lacerda, citados no livro Em Prol da Mediunidade, Pequena História do Espiritismo de Henrique Magalhães