
Nas Campanhas Financeiras que a Maternidade empreendeu nos primeiros anos de sua existência, sempre visitávamos o Sr. Adolpho Basbaum, fundador e Diretor-Presidente das Lojas Brasileiras S.A., firma sediada no Rio de Janeiro, com filiais em vários Estados da União.
No terceiro ano em que o procuramos, o Sr. Adolpho informou-nos que tinha registrado os Estatutos de uma Instituição nos moldes e objetivos da Maternidade “Casa da Mãe Pobre”, cuja denominação seria “Fundação Clara Basbaum”, em homenagem à sua genitora.
Após trocarmos idéias sobre o assunto, ofereceu-nos seu costumeiro donativo e despedimo-nos.
No ano seguinte tornamos a visitá-lo, a Av. Graça Aranha. Foi quando, imprevistamente, o Sr. Adolpho relatou-nos o seguinte:
“Para dar início às finalidades da Fundação Clara Basbaum, comprei um prédio, localizado em amplo terreno, na Rua Conde de Bonfim. Dois meses após dar o sinal por escritura de promessa de compra e venda, a proprietária arrependeu-se negando-se a assinar a escritura definitiva.
“Isso aborreceu-me bastante – continuou ele – em vista das dificuldades de arranjar outro imóvel em local apropriado. Pensei muito no assunto e resolvi fazer-lhe a seguinte proposta: a Fundação unir-se-á à Maternidade “Casa da Mãe Pobre”, embora as duas continuem mantendo sua personalidade jurídica. O patrimônio da Fundação é, no momento, de Cr$ 6.000.000,00 (Seis milhões de cruzeiros) – na época uma importância muito grande – e aumentará sempre, pois a maioria é representada por ações da firma que dirijo.
Continuando sua exposição, o Sr. Adolpho disse mais:
“Dentro do pensamento que formulei, a Fundação Clara Basbaum se propõe a financiar as obras em andamento no Hospital da “Casa, da Mãe Pobre”, bem como sua futura manutenção. E claro que desejo uma organização perfeita”.
Para fazer-se compreender quanto ao seu modo de agir nos negócios, prosseguiu:
“Os escritórios da firma que dirijo ocupam todo este pavimento. Se eu desejar, neste exato momento saber o estoque de qualquer filial de nossa firma, desde o Amazonas a qualquer Estado do Sul, consigo dados suficientes para conhecer toda a situação.”
E acentuando bem as palavras, finalizou:
“Nessas condições, os senhores têm à disposição o dinheiro necessário não só para o restante da construção (estávamos na primeira terça parte das obras), como também para a futura manutenção da Maternidade. “
Nossa primeira reação foi de otimismo e logo agradecemos a confiança que ele depositava na Diretoria da “Casa da Mãe Pobre”, acrescentando que levaria a proposta à Diretoria da nossa Instituição.
Na reunião em que tratamos do assunto, expusemos o caso circunstancialmente e ponderamos:
– “E uma proposta tentadora. Não faltará dinheiro para a construção e manutenção da futura Maternidade, desaparecendo portanto, as preocupações. Temos, porém a considerar dois fatores de primordial importância. Primeiro: Devemos lembrar que não havendo preocupações, desaparecem os incentivos. Segundo: Devemos esclarecer que o mundo representa para nós uma escola em escala sem limites. Cada dificuldade que se nos apresenta é uma prova a vencer. As dificuldades vencidas são vitórias conquistadas no caminho da perfeição. Portanto, se aceitarmos a proposta, fugiremos às dificuldades e aos meios de aperfeiçoamento. Por outro lado, sabemos que o Rio de Janeiro é uma cidade imensa, infestadas de favelas e com elevado grau de pobreza.
Assim, devemos considerar que, se aceitarmos a tentadora proposta, construir-se-á uma só Maternidade dentro daqueles objetivos, ao passo que, se a rejeitarmos, em vez de uma, construir-se-ão duas Maternidades, com possibilidades de mais amplo atendimento, em benefício das parturientes desprovidas de recursos. (Naquela época a Previdência Social não mantinha assistência hospitalar para seus associados)” .
Continuando em nossas ponderações, concluímos:
“Pedimos aos companheiros que estudem o assunto em profundidade, pois a resolução a tomar é de suma importância. Quanto à minha opinião, e levando em consideração todos os itens acima expostos, voto pela rejeição da proposta.”
Estabelecida a discussão, cada qual expôs seu ponto de vista e a proposta foi rejeitada por unanimidade.
No dia seguinte, levamos a resolução da Diretoria ao conhecimento do Sr. Adolpho Basbaum, o qual, risonho desde o início, sofreu um choque ao lhe ser comunicado que nossa Diretoria rejeitara o seu oferecimento, embora realçando os sentimentos humanitários que demonstrara para com a “Casa da Mãe Pobre” em condições tão amplas e generosas.
Trocamos idéias sobre o andamento das obras do futuro hospital e despedimo-nos a seguir.
Durante muitos anos – cerca de vinte e três -aquela figura austera e ao mesmo tempo risonha sempre nos recebeu em seu escritório com a maior deferência, chegando a determinar à sua secretária que nos franqueasse a entrada sem mais cerimônias.
Por outro lado, sempre auxiliou nossa Instituição à qual ficou pertencendo, na qualidade de Membro do Conselho Deliberativo.
Foi uma grande figura a serviço do Bem.
Certa feita confessou-nos que, embora fosse judeu de nascimento, havia se tornado espírita cristão, fator esse que o levou a fundar o Hospital e Maternidade “Clara Basbaum”.
Devemos acrescentar que, alguns meses antes de a Maternidade “Casa da Mãe Pobre” iniciar o atendimento às parturientes pobrezinhas, já a Maternidade “Clara Basbaum” tinha inaugurado o seu Hospital, em Botafogo, onde têm nascido milhares de crianças, filhas de mães sem recursos.
O Senhor ilumine aquela criatura, austera e bondosa, voltada para o bem dos semelhantes.

Fonte: Livro Casa da Mãe Pobre 50 anos de amor de Henrique Magalhães