
Em 1944, após uma de nossas visitas ao Tijuca Tênis Clube, que por várias vezes nos cedeu seu salão para levarmos a efeito bailes familiares, cujo resultado nos ajudava na construção do futuro Hospital, tomamos um bonde para a cidade, esses bondes chamados “Bataclans” eram espaçosos e modernos. Naqueles bons tempos não havia ônibus.
Naquele momento – deveriam ser 13 horas – o bonde estava lotado, motivo pelo qual viajávamos no estribo.
Ao nosso lado achava-se um cavalheiro, alto e de ombros largos, que colocou o calcanhar do seu sapato bem em cima do nosso pé direito. O bonde continuou sua marcha e nós com o pé preso pelo sapato do vizinho. Como o homem não tomasse providências, resolvemos cutucá-lo nos largos costados, indicando-lhe o pé faltoso … O homem olhou para baixo e tirou seu “pezinho”, para não dizermos “pezão”, de cima do nosso.
A viagem continuou, sem outros incidentes.
Quando o bonde atravessou a Praça Tiradentes e entrou na Rua da Carioca, talvez a uns cem metros, parou, em frente da Padaria Francesa, ali existente naquela recuada época. E foi naquela parada que o homem do sapato deixou o bonde. Nessa altura, lembrando-nos da pisadela, murmuramos intimamente:
“Lá vai o brutamontes … ”
o homenzarrão atravessou os metros que separavam o bonde da calçada e, ao subir com o pé para cima do passeio, sem dobrar a perna, fez uma curva de noventa graus. Aquele gesto chamou nossa atenção, obrigando-nos a verificar que era justamente a perna cujo pé tinha estado em cima do nosso. Observamos que a perna não dobrou, levando-nos à conclusão de que era mecânica …
Então pensamos: Quantas vezes criticamos os outros, sem saber se estamos certos, e sem conhecimento de causa … ” .
Lembramo-nos então das recomendações de Jesus Cristo. quando nos advertiu: ” Não julgueis para não serdes julgados. Com a medida com que medirdes, com a mesma medida sereis medidos.”
E ainda há quem olvide os ensinamentos desse vulto glorioso, por não aprender os seus ensinos. E por que não dizer que entre os que combatem o Evangelho alguns se acham dentro da própria doutrina? São os chamados “elitistas”, que enchem o peito com o terno moderno da “parapsicologia”. Andam por esse mundo muitos que só falam em Academias, etc. mas não sabem tirar o espírito da letra, como é o caso presente.
Foi preciso verificar que, mesmo vendo com os próprios olhos uma falta do vizinho, nosso juízo estava totalmente errado.
E o que dizer quando criticamos nossos irmãos, só por escutarmos o que os outros falam? Juízos apressados podem levar-nos a graves erros.
Continuamos meditando no caso e fazendo força para errar menos …
Deus nos ilumine o caminho.

Fonte: Livro Casa da Mãe Pobre 50 anos de amor de Henrique Magalhães